sexta-feira, 9 de abril de 2010

Acidente radiológico de Goiânia

O acidente radiológico de Goiânia foi um grave episódio de contaminação por radioatividade ocorrido no Brasil. A contaminação teve início em 13 de Setembro de 1987, quando um aparelho utilizado em radioterapias das instalações de um hospital abandonado foi encontrado, na zona central de Goiânia.
O instrumento, irresponsavelmente deixado no hospital, foi encontrado por catadores de papel,que entenderam tratar-se de sucata. Foi desmontado e repassado para terceiros, gerando um rastro de contaminação, o qual afetou seriamente a saúde de centenas de pessoas.

A natureza da fonte contaminadora

A contaminação em Goiânia originou-se de uma cápsula que continha cloreto de césio - um sal obtido do radioisótopo 137 do elemento químico césio. A cápsula radioativa era parte de um equipamento radioterapêutico, e, dentro deste, encontrava-se revestida por uma caixa protetora de aço e chumbo. Essa caixa de proteção continha também uma janela feita de irídio, que permitia a passagem da radiação para o exterior. A caixa contendo a cápsula radioativa estava, por sua vez, contida num contentor giratório que dispunha de um colimador. Este servia para direcionar o feixe radioativo, bem como para controlar a sua intensidade. Não se pôde conhecer ao certo o número de série da fonte radioativa, mas pensa-se que a mesma tenha sido produzida por volta de 1970, pelo Laboratório Nacional de Oak Ridge, nos Estados Unidos da América. O material radioativo contido na cápsula totalizava 0,093 kg e a sua radioatividade era, à época do acidente, de 50,9 Terabecquerels (TBq) ou 1375 Ci. O equipamento radioterápico em questão era do modelo Cesapam F-3000. Foi projetado, nos anos 1950, pela empresa italiana Barazetti e Cia., e comercializado pela empresa italiana Generay SpA.

Localização atual do equipamento

Poucas pessoas sabem, mas o objeto onde encontrava-se a cápsula de césio foi recolhido pelos militares do Exército, da Seção hoje conhecida como DQBN (defesa química biológica e nuclear) e encontra-se exposto atualmente como um trófeu em agradecimento aos que participaram da limpeza da área contaminada, no interior da Escola de Instrução Especializada (EsIE), em Realengo na cidade do Rio de Janeiro, capital.

Eventos

 A origem do acidente

O Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) era um instituto privado de radioterapia, localizado na Avenida Paranaíba, no Centro de Goiânia. O equipamento que gerou a contaminação na cidade entrou em funcionamento em 1971, tendo sido desativado em 1985, quando o IGR deixou de operar no endereço mencionado. Com a mudança de localização, o equipamento de teleterapia foi abandonado no interior das antigas instalações. A maior parte das edificações pertencentes à clínica foi demolida, mas algumas salas - inclusive aquela em que se localizava o aparelho - foram mantidas em ruínas.

O desmonte do equipamento radiológico

Foi no ferro-velho de Devair que a cápsula de césio foi aberta para o reaproveitamento do chumbo. O dono do ferro-velho expôs ao ambiente 19,26 g de cloreto de césio-137 (CsCl), um sal muito parecido com o sal de cozinha (NaCl), mas que emite um brilho azulado quando em local desprovido de luz. Devair ficou encantado com o pó que emitia um brilho azul no escuro. Ele mostrou a descoberta para a mulher Maria Gabriela, bem como o distribuiu para familiares e amigos. Pelo fato de esse sal ser higroscópico, ou seja, absorver a umidade do ar, ele facilmente adere à roupa, pele e utensílios, podendo contaminar os alimentos e o organismo internamente. Devair passou pelo tratamento de descontaminação no Hospital Marcílio Dias, no Rio de Janeiro, e morreu sete anos depois.

A exposição à radiação

Tão logo expostas à presença do material radioativo, as pessoas em algumas horas começaram a desenvolver sintomas: náuseas, seguidas de tonturas, com vômitos e diarréias. Alarmados, os familiares dos contaminados foram inicialmente a drogarias procurar auxílio, alguns procuraram postos de saúde e foram encaminhados para hospitais.

A demora na detecção

Os profissionais de saúde, vendo os sintomas, pensaram tratar-se de algum tipo de doença contagiosa desconhecida, medicando os doentes em conformidade com os sintomas descritos. Maria Gabriela, esposa do dono do ferro velho, desconfiou que aquele pó que emitia um brilho azul era o responsável pelos sintomas que ocorriam na sua família. Ela e um empregado do ferro-velho do marido levaram a cápsula de césio para a Vigilância Sanitária, que ainda permaneceu durante dois dias sobre uma cadeira, jogada. Durante a entrevista com médicos, a esposa do dono do ferro velho relatou para a junta médica que os vômitos e diarréia se iniciaram depois que seu marido desmontou aquele "aparelho estranho". Só então, no dia 29 de setembro de 1987, foi dado o alerta de contaminação por material radioativo de milhares de pessoas. Maria Gabriela foi uma dos pacientes tratados no Hospital Marcílio Dias, no Rio de Janeiro. Foi a primeira vítima da contaminação, falecendo no dia 23 de outubro de 1987 de complicações relativas à contaminação com césio. Outra vítima, considerada o retrato da tragédia, Leide das Neves Ferreira, ingeriu involuntariamente pequenas quantidades de césio depois de brincar com o pó azul. A menina de seis anos foi a vítima com a maior dose de radiação do acidente. Não conseguiu sobreviver e morreu no dia 23 de outubro de 1987, duas horas depois da tia. Foi enterrada em um caixão blindado, erguido por um guindaste, por causa das altas taxas de radiação. O seu enterro virou uma briga judicial, pois os coveiros e a população da época não aceitavam que ela fosse enterrada em um caixão, mas sim cremada para que os seus restos mortais não contaminassem o solo do cemitério e as outras covas. Depois de dias de impasse, Leide das Neves foi enterrada em um caixão de chumbo lacrado para que a radiação não fosse transmitida. O governo da época tentou minimizar o acidente escondendo dados da população, que foi submetida a uma "seleção" no Estádio Olímpico Pedro Ludovico; os governantes da época escondiam a tragédia da população, que aterrorizada procurava por auxílio, dizendo ser apenas um vazamento de gás. Outra razão é que Goiânia sediava, na época, o GP Internacional de Motovelocidade no Autódromo Internacional Ayrton Senna e o governo não queria que o pânico fosse instalado nos estrangeiros.

A contaminação

A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) mandou examinar toda a população da região. No total 112 800 pessoas foram expostas aos efeitos do césio, muitas com contaminação corporal externa revertida a tempo. Destas, 129 pessoas apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta, vindo a desenvolver sintomas e foram apenas medicadas. Porém, 49 foram internadas, sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro não resistiram e acabaram morrendo. Muitas casas foram esvaziadas, e limpadores a vácuo foram usados para remover a poeira antes das superfícies serem examinadas para detecção de radioatividade. Para uma melhor identificação, foi usada uma mistura de ácido e tintas azuis. Telhados foram limpos a vácuo, mas duas casas tiveram seus telhados removidos. Objetos como brinquedos, fotografias e utensílios domésticos foram considerados material de rejeito. O que foi recolhido com a limpeza foi transferido para o Parque Estadual Telma Ortegal.
Até à atualidade, todos os contaminados ainda desenvolvem enfermidades relativas à contaminação radioativa, fato este muitas vezes não noticiado pela mídia brasileira. Após vinte anos do desastre radioativo, as várias pessoas contaminadas pela radioatividade reclamam por não estarem recebendo os medicamentos, que, segundo leis instituídas, deveriam ser distribuídos pelo governo. E muitas pessoas contaminadas ainda vivem nas redondezas da região do acidente, entre as Ruas 57, Avenida Paranaíba, Rua 74, Rua 80, Rua 70 e Avenida Goiás; essas pessoas não oferecem, contudo, mais nenhum risco de contaminação à população. Em uma casa, em que o césio foi distribuido, a residente, esposa do comerciante vizinho à Devair, jogou o elemento radioativo no vaso sanitário e, em seguida, deu descarga. O imóvel ficou conhecido como "casa da fossa". Entretanto, a SANEAGO alegou que a casa não possuia fossa, sendo construída com cisterna, para a população não pensar que a água da cidade estaria hipoteticamente contaminada.

Lixo atômico

A limpeza produziu 13,4 toneladas de lixo atômico, que necessitou ser acondicionado em 14 contêineres que foram totalmente lacrados . Dentro destes estão 1.200 caixas e 2.900 tambores, que permanecerão perigosos para o meio ambiente por 180 anos. Para armazenar esse lixo atômico e atendendo às recomendações do IBAMA, da CNEN e da CEMAm, o Parque Estadual Telma Ortegal foi criado em Goiânia, hoje pertencente ao município de Abadia de Goiás, onde se encontra uma "montanha" artificial. Assim, os rejeitos foram enterrados em uma vala de aproximadamente 30 (trinta) metros de profundidade, revestida de uma parede de aproximadamente 1 (um) metro de espessura de concreto e chumbo, e sobre a vala foi construída a montanha.

Consequências

Após o acidente, os imóveis em volta do acidente radiológico tiveram os seus valores reduzidas a preços insignificantes, pois quem morava na região queria sair daquele lugar, mas o medo da população da existência de radiação no ar impedia a compra e construção de novas habitações. Além das desvalorizações dos imóveis, por muito tempo a população local passou por uma certa discriminação devido ao medo de passar a radiação para outras pessoas, dificultando o acesso aos serviços, educação e viajens. Muitas lojas e o comércio que existiam antes do acidente acabaram fechando ou mudando, sobrando alguns poucos comerciantes que ainda resistiam em continuar na região.

Um comentário:

Stigmata disse...

Rapaz, complicado esse acidente...
até hoje a galera sofre por causa disso...
eu ainda assisti um especial sobre no linha direta se nao me engano, foi realmente tragico